Um tesoureiro no Planalto
ELIANE
CANTANHÊDE
O
Estado de S. Paulo - 29/03
A ida de um ex-tesoureiro do
PT para a Secretaria de Comunicação da Presidência é um exemplo estridente do
isolamento de Dilma Rousseff, enclausurada no PT, sem saída. É duplamente
dramático, porque Dilma está fraca, o PT está fraco e um puxa o outro ainda
mais para baixo. Típico abraço de afogados, com uma amarga ironia: a única boia
à vista é a receita Joaquim Levy - que significa o oposto do que Dilma e o PT
pregavam.
Essa nomeação significa que
Dilma não está entendendo nada e/ou não dá a menor bola para a opinião pública,
cada vez mais irritada com escândalos sem fim. Nada contra a pessoa do afável
Edinho Silva, mas a expressão "tesoureiro do PT" remete a Delúbio
Soares, preso no mensalão, e a João Vaccari Neto, ainda no cargo e réu na Lava
Jato.
E o que se projeta para a
Secom? O temor é de manipulação das verbas oficiais de publicidade, que
deveriam ser de governo, mas tendem a ser cada vez mais de um partido. Lula,
Dilma e o PT sempre culpam a mídia pelas próprias desgraças e, tomara que não,
mas podem querer dar uma de Nicolás Maduro na Venezuela e de Cristina Kirchner
na Argentina, usando dinheiro público para chantagear empresas de comunicação.
Com estagnação em 2014 (PIB
de 0,1%), previsão de recessão em 2015, indústria encolhendo, demissões começando,
inflação disparando e falta de perspectiva asfixiando investimentos, cortar
publicidade tem ares de vingança cruel. Parece, porém, encontrar simpatia na
cúpula petista.
Em recente reunião da
bancada do PT na Câmara, presenciada pelo repórter Pedro Venceslau, do Estado,
o líder José Guimarães disse que o governo "vive uma sangria" e é
preciso "radicalizar, ir para a ofensiva". Para o presidente do
partido, Rui Falcão - que é jornalista - o governo tem de restringir a
publicidade aos meios de comunicação mais aliados. Ou seja: aos amigos (como os
blogueiros sujos, ops!, "independentes"), tudo; à mídia livre, pão e
água.
Aliás, que jornalista
realmente independente assumiria o cargo neste "caos político", como
admitiu a própria Secom? Só um jornalista engajado ou um militante, um soldado,
assumiria a comunicação de governo neste momento. É uma missão, é ir para o
sacrifício, porque a realidade desmente, dia após dia, a versão de que o
derretimento da imagem de Dilma e do partido é "culpa da imprensa".
Milhões de pessoas foram às
ruas em 15 de março, e prometem voltar em 12 de abril, não por causa da chamada
grande mídia, mas por impulso das redes sociais e pela irritação generalizada
com os escândalos bilionários e institucionalizados no governo Lula, com a
incompetência do governo Dilma na economia, na política e na gestão e com as
mentiras de campanha sobre vacas tossindo.
"Não adianta falar que
a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20%
ou a sua conta de luz saltar em 33%. Assim como um senador tucano na lista da
Lava Jato não altera o fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do
PT." Quem disse isso não foi a imprensa malvada, foi aquele documento da
própria Secom publicado com exclusividade pelo portal Estadão.com.br.
Logo... trocar um jornalista
por um tesoureiro do PT e chantagear com verbas publicitárias não vai resolver
nada. Não há marketing que faça o PIB crescer, o emprego aparecer, a inflação
cair, a conta de luz baixar. Nem que apague o mensalão, o petrolão, os títulos
que o Postalis comprou da Venezuela e os bilhões de reais sonegados à Receita a
golpes de propina.
Além de paciência, como
diria o ministro Jacques Wagner, o ex-tesoureiro Edinho Silva vai precisar
muito de... Ah, sei lá