O PIB do fracasso
EDITORIAL O ESTADÃO
O
ESTADO DE S. PAULO - 31/05
A economia brasileira vai
continuar anêmica, sem fôlego para crescer como outros emergentes e sem força,
ainda por um bom tempo, para enfrentar os principais competidores. O Brasil
seguirá perdendo o jogo por falta de eficiência e de capacidade produtiva.
Esta é a pior notícia
embutida nas contas nacionais do primeiro trimestre, balanço de um desempenho
abaixo de pífio, com crescimento de apenas 0,2% em relação aos três meses
finais de 2013. Projetada para um ano, essa taxa corresponde a pouco mais de
0,8%, em termos acumulados, mas até esse resultado já parece acima das
possibilidades, segundo alguns analistas. Mas o detalhe mais negativo é outro:
o País permanece condenado a crescer muito menos do que poderia, se fosse
governado com alguma competência, porque a taxa de investimento produtivo, já
muito baixa nos últimos anos, voltou a cair.
Nos primeiros três meses
deste ano o governo e o setor privado investiram em máquinas, equipamentos,
instalações e obras de infraestrutura apenas 17,7% do Produto Interno Bruto
(PIB). Essa proporção, um ano antes, era de 18,2%. Em outros emergentes essa
proporção raramente fica abaixo de 24% e em muitos casos passa de 30%. Na
China, tem superado os 40%.
Uma comparação mais
completa, e até mais negativa para o Brasil, deveria incluir os números e a
qualidade da mão de obra disponível. Não basta gastar mais em educação e
promover a multiplicação de vagas de grau superior, se a formação é ruim nos
cursos fundamental e médio e a maior parte das faculdades produz mais diplomas
do que competências.
O investimento em queda e a
indústria estagnada são os detalhes mais assustadores do quadro divulgado ontem
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com os novos
números do Produto Interno Bruto. A taxa de investimento chegou a 19,5% no
primeiro trimestre de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff ainda se
acomodava no gabinete principal do Palácio do Planalto. Caiu, a partir daí,
para 18,8%, nos primeiros três meses de 2012; para 18,2%, um ano depois; e para
17,7%, no trimestre inicial de 2014.
A queda comprova mais uma
vez o fracasso, nada surpreendente, da estratégia seguida neste governo e em
parte implantada no governo anterior. Falhou o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). O plano de concessões de infraestrutura, mal concebido e mal
executado, demorou a deslanchar e pouco avançou. Os financiamentos com recursos
federais privilegiaram grandes empresas do próprio governo e grupos
selecionados para tornar-se campeões. Os estímulos fiscais beneficiaram
indústrias selecionadas e favoreceram muito mais o consumo do que a produção. O
sistema tributário, irracional e absurdamente oneroso, permaneceu quase
intacto. Enquanto isso, o governo continuou gastando, intervindo na economia de
forma desastrada e perdendo credibilidade.
O péssimo desempenho da
indústria, com recuo de 0,8% nos primeiros três meses e crescimento de apenas
2,1% em quatro trimestres, também mostra a falência de um estilo de política
econômica. O protecionismo foi incapaz de impedir a conquista de fatias
crescentes do mercado interno pelos produtores estrangeiros. Além disso, seria inútil
como instrumento de competitividade para os fabricantes nacionais atuarem no
mercado externo. Isso foi sempre óbvio. Mas o governo, com apoio de parte do
empresariado, preferiu reeditar um modelo defensável, há décadas, quando ainda
tinha sentido falar de indústria nascente.
Mais uma vez a agropecuária
impediu um desastre maior. Sua produção no primeiro trimestre foi 3,6% maior
que nos três últimos meses do ano passado. Em 12 meses, o crescimento acumulado
chegou a 4,8%, enquanto a expansão do PIB total continuou em 2,5%, a mesma taxa
de 2013. Este é o número revisto. O dado anterior (2,3%) foi revisto depois de
atualizada a pesquisa do setor industrial. Essa atualização pouco afetou o
quadro geral do ano passado e as perspectivas deste ano. A estatística
melhorou, mas a política é tão ruim quanto antes.