segunda-feira, 31 de março de 2014
BOLA PRETA: Aparece mais U$ 85 milhões de prejuízo na negociata da Petrobras da Dilma com a sucata de Pasadena.
A Petrobrás pagou US$ 85,14 milhões à
Astra Oil em fevereiro de 2007 para garantir à sua então sócia na refinaria e
na trading de Pasadena um lucro mínimo com o negócio, atendendo à exigência do
acordo de acionistas que as duas empresas haviam assinado no ano anterior. Com
esse desembolso, o preço final que a estatal brasileira pagou pela operação do
Texas sobe ainda mais - de US$ 1,18 bilhão para pelo menos US$ 1,265 bilhão.
O pagamento é confirmado em memorando
da Astra à Receita Federal americana apresentado em um dos processos judiciais
nos quais as duas empresas se enfrentaram. Com data de 19 de dezembro de 2008,
ele tenta esclarecer dúvidas levantadas pelo auditor J. Clark Armitage sobre a
natureza da transferência.
Os advogados da Astra respondem que o
desembolso é um "pagamento garantido", que deveria ser feito pela
Petrobrás à Astra quando a receita da empresa de trading que abastecia a
refinaria de Pasadena ficasse abaixo de determinado patamar. Esse benefício
seria pago por dois anos, no valor máximo de US$ 85,14 milhões em cada um
deles, em um total de US$ 170,28 milhões.
Chamado de "alocação
especial", esse dispositivo é distinto de outro que dava à sócia belga da
Petrobrás uma rentabilidade mínima líquida com o negócio de 6,9% ao ano, por um
período de 15 anos. Esse item ficou conhecido como "cláusula de
Marlim", porque foi justificado com o argumento de que se tratava de uma
compensação à Astra pelo fato de a Petrobrás poder refinar em Pasadena o óleo
pesado que produzia no campo de Marlim, na Bacia de Campos, Rio de Janeiro.
O acordo de acionistas, no entanto,
não prevê nenhuma contrapartida ou benefício para a Petrobrás em troca da
"alocação especial" que a estatal teria de pagar à Astra em 2007 e
2008, tendo como base os resultados da trading dos anos anteriores. O documento
diz que o "pagamento garantido" de 2008 dependeria das receitas
obtidas em 2007 - não está claro se ele chegou a ocorrer nem qual o seu valor.
A "cláusula de Marlim" e a
"alocação especial" que gerou o pagamento de US$ 85,14 milhões
estavam entre as condições que tinham o objetivo de favorecer a sócia belga e
protegê-la de riscos associados à operação. Na prática, era uma garantia de
lucro mínimo que seria bancada pela estatal mesmo na hipótese de a receita
bruta com as operações da trading ser insuficiente para a realização dos
pagamentos.
"A quantia dessa alocação
especial deve reduzir o montante dos lucros (ou aumentar o montante das perdas)
que seriam de outra maneira alocados à sócia Petrobrás", diz trecho do item
4.3 do acordo de acionistas de setembro de 2006 que criou a trading de
Pasadena, que era uma empresa distinta da refinaria.
No documento à Receita Federal americana, os advogados da Astra explicam
que a estatal brasileira concordou em contribuir com "certas
quantias" para o capital da trading, e que esses recursos seriam usados
para os "pagamentos garantidos" que asseguravam à Astra a obtenção de
lucro na operação independentemente do que acontecesse. (Estadão)
sábado, 29 de março de 2014
BOLA PRETA: Escândalo na Petrobras.
Mercado antecipa seu julgamento sobre Dilma. E a sentença é dura
O valor da Petrobras caiu quase à metade do que era quando Dilma colocou a faixa presidencial, e ela se tornou símbolo da má gestão da presidente.
Robson Bonin e Malu Gaspar
Pescoço a prêmio - Dilma quer entregar a cabeça de diretores da Petrobras para estancar a crise (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Acrise
da Petrobras só não se encaixa na definição de tempestade perfeita sobre o
Planalto porque a campanha presidencial de 2014 ainda não começou e há uma Copa
do Mundo a separar o Brasil de hoje daquele que vai às urnas em outubro. Seis
meses em política é uma eternidade, e o que parece hoje uma cápsula de
cianureto para os planos de reeleição de Dilma Rousseff pode ir se diluindo até
sobrar apenas um sal amargo, desagradável, mas digerível pela opinião pública.
Pelo menos essa é a esperança do governo. A da oposição é a de que os poços de
escândalos da Petrobras sejam muito mais profundos e ricos em notícias cada vez
mais intoxicantes para Dilma e sua candidatura.
A situação na semana passada
era desastrosa para as duas Dilmas, a presidente e a candidata, que se
confundem na percepção do eleitor. Essa confusão é boa quando as coisas fluem
com serenidade e péssima quando a maré contrária é muito forte. É o caso de Dilma
Rousseff neste momento. Tudo parece conspirar coordenadamente contra a
presidente, até, espantosamente, ela própria ao chamar atenção para o episódio
da compra da refinaria de Pasadena, que se tornou, perante a opinição pública,
sinônimo de um prejuízo de 1 bilhão de dólares para o Brasil.
O caso Pasadena parecia
perdido entre camadas de outros desgovernos que, embora mais destrutivos, eram
mais fáceis de explicar e, portanto, mais difíceis de ser explorados
eleitoralmente pela oposição. Fala-se aqui do rombo de centenas de bilhões de
reais cavados no setor energético pela tentação populista de Dilma de obrigar
as empresas a fornecer eletricidade a um preço abaixo do custo de produção e a
Petrobras a importar gasolina cara e vendê-la mais barato aos distribuidores.
Perto do prejuízo produzido pela política desastrosa de segurar artificialmente
o preço da luz e da gasolina, empalidece a perda com a compra da refinaria do
Texas. Na Petrobras viraram pó mais de oitenta Pasadenas em valor de mercado e
trinta Pasadenas em prejuízo financeiro pelo subsídio à gasolina e ao diesel.
Na Eletrobras queimaram-se quase sete Pasadenas em valor de mercado.
Circula a versão de que a
estratégia de Dilma era reabrir o caso Pasadena agora e, assim, minimizar sua
exploração pela oposição na fase de debates da campanha eleitoral. Se foi isso
mesmo, ela deu um tiro no pé, outros no peito e, quem sabe, um de misericórdia
na própria cabeça. Os escândalos da Petrobras anteciparam o julgamento pelos
investidores da capacidade de governar de Dilma. A sentença foi dura. Ela se
traduz pela seguinte equação: basta Dilma cair nas pesquisas para que aumente a
disposição do mercado de investir no Brasil. Na semana passada, uma pesquisa
CNI/Ibope mostrou uma queda de 7 pontos porcentuais na aprovação do governo. O
resultado imediato foi um dia de forte alta na Bovespa (3,5%) com ganhos
extraordinários para as ações da Petrobras (8%), da Eletrobras (10%) e do Banco
do Brasil (6%). O recado do mercado foi inequívoco e cristalino: o governo não
é parte da solução, o governo é o problema. Diz Ricardo Corrêa, diretor da
Ativa Corretora: “Sem a intervenção política do governo, a Petrobras e a
Eletrobras são investimentos de enorme potencial. A Petrobras, em alguns anos,
vai se tornar uma das maiores empresas de petróleo no mundo”.
Com reportagem de Alana
Rizzo e Marcelo Sakate – Revista Veja.
Ninguém fiscaliza financiamento do BNDES lá fora
Cláudio Humberto
Publicado Terça-feira, 28 de janeiro de 2014. Vale
republicar.
Obras bancadas pelo BNDES no exterior
não são fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União, Ministério Público
Federal ou qualquer órgão de controle. É o caso do financiamento de US$ 684
milhões do Porto Muriel, em Cuba. A condição do BNDES sempre é a mesma, em
países latino-americanos ou africanos: entregar a obra a empreiteira
brasileira, cuja escolha não tem licitação, nem auditorias. Dilma ontem
anunciou mais US$ 360 milhões para bancar o aeroporto de Havana.
• Último a saber. “Não há nem projeto”,
diz o BNDES, surpreso com os US$ 360 milhões para Cuba. Mas já há empreiteira,
que soprou o valor no ouvido certo.
• Bye, bye, Brasil. Só em 2012, US$
2,17 bilhões do BNDES foram pagos a empreiteiras brasileiras no exterior. Em
2013, até setembro, foram US$ 1,37 bilhão.
• Secretos e suspeitos. Os contratos do
BNDES no exterior são “secretos”: o teor dos contratos do Porto de Muriel, por
exemplo, somente será conhecido em 2027.
• Gênios do mal. A fórmula “engenhosa”,
de tirar montanhas de dinheiro do Tesouro sem licitação, sem controle e sem
fiscalização, foi criada no governo Lula.
sexta-feira, 28 de março de 2014
ATÉ QUANDO, SENHORES DA
CNBB?
Percival
Puggina
Sei que o texto transcrito a
seguir parece escrito com o cotovelo, mas era preciso ser fiel ao trabalho de
seus redatores. Trata-se de um trecho do documento Análise de Conjuntura,
referente a março de 2014, preparado pela assessoria da CNBB para a 83ª reunião
do Conselho Permanente da entidade, ocorrida entre os dias 11 e 13 deste mês em
Brasília.
"Em análises anteriores
da conjuntura econômica foi assinalado o discurso alarmista da imprensa e o
alarmismo de analistas econômicos, não sem contradições na análise da
realidade. Está bem presente um viés ideológico que perpassa todas as análises
evidenciando um conluio entre a imprensa e os donos do dinheiro no país. O tom
das análises reflete rancor, raiva e oposição ao governo atual, com
parcialidade tal que perde o sentido de objetividade. A chave de leitura é uma
oposição visceral do mundo financeiro e empresarial ao governo da presidente
Dilma, ampliada com o horizonte das eleições em outubro deste ano."
Por indicação de um leitor,
retornei ao site da CNBB em busca desse documento. Havia onze anos que eu não
perdia meu tempo lendo as análises mensais de conjuntura preparadas pela
assessoria da CNBB. A entidade, na ocasião em que questionei o tom petista
militante que caracterizava os textos, informou que os mesmos não eram
"dela", CNBB, mas elaborados "para ela". Com tal afirmação,
os senhores bispos supunham desobrigar-se de um volumoso conjunto de documentos
que, estranhamente, levam o timbre e estão disponíveis no site da entidade que
os congrega.
Entre minha visita anterior
e esta, transcorreu toda uma década, mudou o mundo, mudou o Brasil, mas os
assessores da CNBB continuam derramando seu fel ideológico sobre cada frase. A
orientação persiste: defesa insistente do petismo e seus parceiros de aquém e
de além mar. O texto acima, por exemplo, é parte de um trecho bem maior,
dedicado à situação nacional. Ao longo dele algo, ao menos, fica bem claro: os
peritos que socorrem a CNBB com sua visão da "conjuntura" já têm
candidata a "presidenta" para 2014. O documento deve ter cerca de 5
mil palavras. De início, para desvendar sua eclesialidade, procurei ver quantas
vezes apareciam nele a palavra Cristo e seus derivados. Usando o instrumento de
busca, digitei as letras "crist" com o que abrangeria todos os vocábulos
com essa raiz. Houve apenas três ocorrências. Pareceu-me pouco para um
documento católico. Quando fui ver o que diziam do Mestre, descobri, não sem
surpresa, que uma dessas referências tratava da senhora Cristina Kirchner, a
outra do senador Cristovam Buarque. E a terceira mencionava as "milícias
cristãs" que estariam sendo submetidas à lei de Talião na República
Centro-Africana. Ou seja, do doce Nazareno, apesar de levar a assinatura de
quatro padres, nada. Ni jota como diriam nossos vizinhos castelhanos. O texto
ficaria muito bem num Congresso do PT ou numa reunião do Foro de São Paulo:
apoio ao governo federal, à presidente Dilma, ambiguidade em relação à crise da
Ucrânia e apoio a Maduro na crise venezuelana, onde sustentam os redatores que
a oposição, sim, a oposição, estaria radicalizando.
Entre os quatro leigos que
também subscrevem o documento incluem-se o secretário de Articulação Social da
Chefia de Gabinete da Presidência da República (braço-direito do ministro
Gilberto Carvalho) e o secretário de Desenvolvimento Social e Transferência de
Renda do governador petista do Distrito Federal. Os outros dois leigos são
membros da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, outro dos vários organismos da
CNBB aparelhados pelo PT, como a Pastoral da Terra, as CEBs e a Pastoral da
Juventude. Todos selecionados a dedo, portanto, para produzirem o que se lê.
Esperavam o quê?
Não é com surpresa que faço
estas constatações e escrevo estas linhas. A CNBB parece não se importar com as
demasias praticadas sob o guarda-chuva de seu nome e logomarca, nem com sua
instrumentalização para fins políticos e partidários. Pode chocar a você,
leitor, saber que esse suposto desinteresse coloca a instituição a serviço de
quem, inequivocamente, tem entre seus objetivos o de acabar com o pouco que
ainda remanesce de valores cristãos e de presença da Igreja na sociedade
brasileira. Mas isso não causa o menor constrangimento à CNBB.
Há muitos lobos no meio das
ovelhas que lhes confiou o Senhor. Às avessas da recomendação evangélica, os
mansos como as pombas não parecem ser prudentes como as serpentes. E os
prudentes nada têm de mansos.
_____________
* Percival Puggina (69) é
arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de
Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo
Pensar+.
1964 JÁ ERA! VIVA 2064!
REINALDO AZEVEDO
Folha de São Paulo 28/03/2014
1964 já era! Tenho saudade é de 2064! Os historiadores podem e devem se
interessar pelos eventos de há 50 anos, mas só oportunistas querem encruar a
história, vivendo-a como revanche. Enfara-me a arqueologia vigarista. Trata-se
de uma farsa política, intelectual e jurídica, que busca arrancar do mundo dos
mortos vantagens objetivas no mundo dos vivos.
A semente do mensalão está nos delírios do Araguaia. O dossiê dos
aloprados foi forjado pela turma que roubou o "Cofre do Adhemar". Os
assaltos à Petrobras foram planejados pelas homicidas VAR-Palmares, de Dilma, e
ALN, de Marighella. A privatização do passado garante, em suma, lugares de
poder no presente e no futuro. Os farsantes apelam à mitologia para reivindicar
o exclusivismo moral que justifica seus crimes de hoje. Ladrões se ancoram na
gesta da libertação dos oprimidos. Uma solene banana para eles, com seus punhos
cerrados e seus bolsos cheios!
Quem falava em nome dos valores democráticos em 1964? Os que rasgaram de
vez a Constituição ou os que a rasgavam um pouco por dia? Exibam um texto, um
só, das esquerdas de então que defendesse a democracia como um valor em si. Uma
musiquinha do CPC da UNE para ilustrar: "Ah, ah, democracia! Que bela
fantasia!/ Cadê a democracia se a barriga está vazia?" Para bom
entendedor, uma oração subordinada basta. A resposta matou mais de 100 milhões
só de... fome!
Nota desnecessária em tempos menos broncos: respeito a disposição dos
que querem encontrar seus mortos. Eu não desistiria enquanto forças tivesse.
Mas não lhes concedo a legitimidade, menos ainda a alguns prosélitos disfarçados
de juristas, para violar as regras do Estado de Direito. A anistia, por
exemplo, não está consignada apenas na lei nº 6.683. O perdão --não o
esquecimento-- é também o pressuposto da Emenda Constitucional nº 26 ,
de 1985, que convocou a Assembleia Nacional Constituinte. Vamos declarar sem
efeito o texto que nos deu a nova Constituição? A pressão em favor da revogação
da anistia e a conversão da Comissão da Verdade --se estatal, ela é
necessariamente mentirosa-- num tribunal informal da história ignoram os pactos
sobre os quais se firmaram a pacificação política do país.
Digam-me: onde estávamos em 1985? Revivendo a repressão de 1935, que se
seguiu à "Intentona Comunista"? E em 1987? Maldizendo os 50 anos do
Estado Novo? E em 1995, celebrando o seu fim? Estado Novo? Eis a ditadura que
os "progressistas" apagaram da memória. Um tirano como Getúlio Vargas
foi recuperado pelas esquerdas para a galeria dos heróis do anti-imperialismo e
serve de marco, segundo os pensadores amadores, para distinguir
"demófobos" de "demófilos".
Ilustro rapidamente. Entre novembro de 1935 e maio de 1937, só no Rio,
foram detidas 7.056 pessoas. Todas as garantias individuais estavam suspensas.
Dois navios de guerra foram improvisados como presídios. Em 1936, criou-se o
Tribunal de Segurança Nacional, que condenou mais de 4 mil pessoas --Monteiro
Lobato entre elas. Mais de 10 mil foram processadas. A Constituição de 1937
previa a pena de morte para quem tentasse "subverter por meios violentos a
ordem política e social". Leiam o decreto nº 428, de 1938, para saber como
era um julgamento de acusados de crime político. Kim Jong-un ficaria corado. A
tortura se generalizou. No assalto ao Palácio da Guanabara, promovido por
integralistas em maio de 1938, oito pessoas presas, desarmadas e rendidas foram
assassinadas a sangue frio, no jardim, sem julgamento, por Benjamin e Serafim
Vargas, respectivamente irmão e sobrinho de Getúlio. No dia 9 de novembro de
1943, a Polícia Especial enfrentou a tiros uma passeata de estudantes da
Faculdade de Direito do Largo São Francisco, com duas vítimas fatais. Tudo
indica que os mortos e desaparecidos do Estado Novo, sem guerrilha nem ataques
terroristas, superaram em muito os do regime militar. Nunca se fez essa
contabilidade. Nesse caso, a disputa pelo presente e pelo futuro pedia que se
escondessem os cadáveres.
Getúlio virou um divisor de águas ideológicas na história inventada
pelos comunistas, oportunistas e palermas e é o pai intelectual de João Goulart,
o golpista incompetente deposto em 1964. Antes, como agora, "eles"
sabem como transformar em heróis seus assassinos. A arqueologia do golpe é um
golpe contra o futuro. Viva 2064!
quinta-feira, 27 de março de 2014
BOLA BRANCA: Pesquisa IBOPE, de hoje, mostra que Dilma está despencando.
Avaliação positiva do governo Dilma cai para 36%, indica CNI/Ibope.
Entre dezembro do ano passado e março, a aprovação da maneira de governar da presidente também caiu de 56% para 51%.
Brasília - A avaliação
positiva do governo da presidente Dilma Rousseff caiu de 43% para 36% em
relação a dezembro, segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quinta-feira,
27. No mesmo período, o porcentual de entrevistados que consideram o governo
regular registrou oscilação dentro da margem de erro de 35% para 36% dos e os
que o avaliam o governo como ruim ou péssimo subiu de 20% para 27%.
BOLA PRETA: Roubalheira na Petrobras? Que venha a CPI.
A ponta do iceberg da roubalheira da refinaria Abreu e Lima.
As obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que ligam o doleiro
Alberto Youssef ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, registraram
superfaturamento de R$ 69,597 milhões só na primeira fase, a de terraplanagem.
A irregularidade foi constatada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que
determinou, em agosto, que a Petrobras executasse garantias do consórcio
Refinaria Abreu e Lima (construtoras Norberto Odebretch, Queiroz Galvão,
Camargo Corrêa e Galvão Engenharia) para reaver a quantia e encaminhou provas à
Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e à Casa Civil da Presidência da
República.
Segundo o acórdão, o superfaturamento só não foi maior porque, no
decorrer das investigações, houve repactuação de preços entre a Petrobras e o
consórcio, reduzindo o rombo. Mesmo assim, o valor alcançou 13% do total do
contrato, que era de R$ 534.171.862,30.
O acórdão foi publicado em agosto. Segundo o relator, Valmir Campelo,
houve um jogo de planilha: “Com a adoção dessa prática foram promovidos
pagamentos maiores do que os inicialmente previstos” e os aditivos engordaram
os preços de itens que antes não eram relevantes para o valor total do
contrato.
O juiz Sérgio Moro, da 13°Vara Federal em Curitiba, afirmou na decisão
de prisão preventiva de Costa que há documentos indicando “relação profunda”
entre Costa e Youssef. Moro diz que foram feitos pagamentos vultosos do doleiro
a Costa entre 2011 e 2012 e que eles estariam relacionados às obras da
refinaria, cuja licitação teve participação do diretor da Petrobrás, o que
caracterizaria corrupção passiva.
Youssef e Costa teriam contas comuns no exterior e foram produzidos
relatórios mensais da posição do ex-diretor da Petrobras com o doleiro, com
pagamentos a serem feitos inclusive a terceiros. Alguns dos pagamentos,
acrescentou o juiz, envolvem negócios com a Petrobras. ( O Globo)
BOLA BRANCA: Para a investigação, através de CPI, da Petrobras. Precisamos saber, de fato, quem ficou com esse dinheiro.
Suporte às investigações internas na Petrobras
EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 27/03
Não se pode depender apenas de
investigações feitas pela empresa, dada a profundidade a que chegou seu
aparelhamento por esquemas político-partidários e sindicais.
Surpreendida ou não pela decisão da
presidente Dilma, amiga e superiora hierárquica, de reconhecer em nota oficial
a estranha tramitação dentro da empresa da compra a preços astronômicos da
refinaria de Pasadena (Texas, EUA), a presidente da Petrobras, Graça Foster,
precisava agir.
E a resposta veio em entrevista ao
GLOBO, publicada ontem, em que Graça foi além da protocolar comissão criada
para averiguar a aquisição da refinaria ao grupo belga Astra Oil, comprada
pelos belgas por US$ 42,5 milhões, e cuja metade foi repassada à estatal logo
depois por US$ 360 milhões — pode ter sido mais —, para tudo terminar numa
sangria de US$ 1,2 bilhão no caixa da empresa. A presidente adiantou que deseja
também conhecer a exótica história — vários negócios feitos pela Petrobras a
partir desta época, 2005/6 são de grande exotismo — de um comitê de
proprietários da refinaria criado acima do Conselho de Administração da
estatal, e do qual, mesmo tendo assumido há dois anos a Petrobras, ela não
tinha conhecimento. A comissão deverá, ainda, procurar saber o real motivo por
que o exonerado Nestor Cerveró não incluiu no resumo levado ao Conselho de
Administração, à época presidida pela ministra Dilma, cláusulas importantes no
negócio de aquisição da empresa — garantia de uma rentabilidade mínima aos
belgas e compra compulsória da posição acionária do sócio pela parte que
instaurasse algum litígio. Foi o que aconteceu com a Petrobras, obrigada, ao
final de uma luta na Justiça, a gastar outros US$ 820,5 milhões.
Mas o ponto referente ao tal comitê
aguça a curiosidade geral, e tem mesmo de ser esclarecido, porque nele estava,
representando a Petrobras, Paulo Roberto Costa, à época diretor de
Abastecimento e hoje sob custódia da Polícia Federal, com prisão preventiva
decretada pela Justiça, acusado de participar de grosso esquema de lavagem de
dinheiro. O fio da meada parece extenso. O mesmo Paulo Roberto aparece em outra
operação bilionária e estranha, a da construção, em curso, da refinaria Abreu e
Lima, em Pernambuco, em que Chávez e Lula selaram um acordo jamais cumprido
pelos venezuelanos. As contas todas caem na Petrobras e, tudo indica, bastante
superfaturadas.
Basta considerar que, orçada
inicialmente em US$ 2 bilhões, a refinaria custará quase dez vezes mais. As
pontas se ligam: diz o delegado da PF que investiga Paulo Roberto que foram
apreendidas planilhas junto ao ex-diretor da estatal com anotações sobre
promessa de ajuda às empreiteiras que atuam no canteiro de obras da Abreu e
Lima.
Como vários outros diretores, Paulo Roberto
era patrocinado por partidos políticos (PMDB e PP, afirma-se). A iniciativa de
Graça Foster de instituir a comissão interna é correta. Mas é preciso ajuda de
organismos de Estado (PF, MP, CGU, TCU). Apesar dos bons propósitos da
presidente, não se pode depender apenas de investigações feitas pela própria
empresa, dada a profundidade a que chegou seu aparelhamento por esquemas
político-partidários e sindicais.
BOLA PRETA: Para a política econômica da Dilma.
Está bom ou ruim?
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 27/03
“Assim como leva anos para se merecer o grau de investimento, é preciso uma série de equívocos para estragar a coisa”.
“Assim como leva anos para se merecer o grau de investimento, é preciso uma série de equívocos para estragar a coisa”.
E então: está bom ou está ruim? Ser rebaixado por
uma agência de classificação de risco é certamente ruim. Mas o mundo não
acabou. Nem a bolsa despencou, nem o dólar disparou. Logo, qual o problema de
uma nota mais baixa?
O problema maior está justamente na formulação
dessa pergunta. Assim como leva anos para se arrumar a economia de um país — e
merecer o grau de investimento — também é preciso uma série longa de equívocos
para estragar a coisa. Como isso acontece devagarzinho, a gente corre o risco
de se acostumar com o errado. É o que está acontecendo por aqui.
A agência Standard & Poor’s (S&P) promoveu
o Brasil a grau de investimento, retirando-o do grupo dos caloteiros, só em
2008, nada menos que 14 anos depois da introdução do Real e após uma série de
reformas que levaram à estabilidade. O país estava então no segundo mandato de
Lula, que celebrou ruidosamente a novidade. Disse que era um momento mágico e
que o Brasil recebera o carimbo de país sério.
Era por aí: o prêmio pela manutenção de uma mesma
política econômica ao longo de quatro mandatos presidenciais, comandados por
partidos diferentes. Em 2011, já no governo Dilma, o Brasil teve uma outra
promoção, passando para o nível dois de grau de investimento. Era uma
recompensa pela boa sobrevivência à crise financeira global. Desta vez, o
Brasil acompanhou os principais emergentes: todos reagiram bem.
Na última segunda-feira, portanto, o Brasil
retrocedeu três anos. Voltou à nota de 2008, que ainda é grau de investimento,
mas apenas no primeiro nível. Mais uma bobeada — ou um conjunto de bobeadas — e
o país volta ao grupo dos caloteiros conhecidos.
Mas esse fato — ter a economia brasileira
permanecido comoinvestiment grade — foi o mais acentuado por muita gente. Por
exemplo: a bolsa brasileira continuou no ritmo positivo — no day after do
rebaixamento emplacou sete dias úteis de alta. E o dólar continuou acomodado na
casa dos R$ 2 e trinta e poucos. Os juros subiram, mas só um pouco.
Mas olhem mais para trás. Nos últimos 12 meses, a
bolsa brasileira sai do positivo e se mostra como tem sido: 12% de queda. Foi
um dos piores desempenhos entre as principais bolsas internacionais.
Todas as medidas do risco Brasil vêm mostrando alta
desde 2012. Hoje, esse risco — medido pela taxa de juros que o governo paga por
empréstimos externos ou pelo seguro contra calote — é maior do que a média da
América Latina e da Ásia emergente.
Isso reflete a deterioração da política econômica
especialmente nos últimos três anos. Mas o que significa deterioração?
Significa que os fundamentos — aqueles que levaram
ao grau de investimento — não foram jogados no lixo, mas têm sido maltratados.
Por exemplo: ainda estamos sob o regime de metas de
inflação com Banco Central independente. O BC segue os rituais desse sistema
praticado por quase todos os países sérios, mas... não segue. Ficou evidente
que o BC reduziu a taxa básica para 7,25%, lá atrás, para cumprir uma meta
política da presidente Dilma. Tanto foi um movimento sem base técnica que hoje,
com a volta da inflação, o BC colocou a taxa de juros no mesmo lugar em que
estava quando a presidente Dilma assumiu, em 2011. Ou seja, esse movimento do
BC só causou confusão e deixou a inflação perto e até acima do teto da meta.
É tudo assim, por um lado, por outro. A meta de
inflação continua sendo de 4,5%, mas qualquer coisa abaixo dos 6,5% está bom
para o governo.
O governo continua colocando no orçamento as metas
de superávit primário, como manda a lei de responsabilidade fiscal, um dos
pilares do grau de investimento. Mas, na execução, o governo manipula os
números, inventa operações para esconder a alta da dívida, faz novas promessas
— e acha que todo mundo vai acreditar.
Contou com isso por um bom tempo. Só agora a
S&P resolveu reduzir a nota brasileira. As outras duas agências importantes
ainda não se moveram.
Resumo da ópera: a gestão da política econômica é
bastante ruim, em praticamente todas as áreas, do combate à inflação à gerência
do setor elétrico e da Petrobras. Por isso o risco Brasil e a S&P
derrubaram a nota brasileira. Mas, como as bases institucionais da estabilidade
continuam aí, entende-se que os desvios podem ser corrigidos a tempo. Daí, a
manutenção do grau de investimento.
Desse ponto de vista, o rebaixamento deve ser visto
como um sinal de que, antes de mais nada, a política econômica precisa voltar
aos fundamentos.
CUSTO LULA
Procurem no Google “Lula e a refinaria de
Pernambuco”. Logo verão que o ex-presidente considerava (e comemorava) como sua
a decisão de fazer a Refinaria Abreu e Lima, em associação e com o petróleo da
PDVSA de Chávez. Era parte de sua diplomacia Sul-Sul.
segunda-feira, 24 de março de 2014
BOLA BRANCA: Novo sentimento dos brasileiros.
Protagonista
de um governo refém dos interesses do regime de aparelhamento que se abateu
sobre o Estado nacional, a presidente Dilma Rousseff já não sabe mais o que
dizer ao Brasil, além de terceirizar responsabilidades.
Atônitos,
os brasileiros são informados que, em poucos anos, a 12ª maior empresa do mundo
foi transformada na 120ª e começam a perceber que, infelizmente, a PTrobras,
longe de ser uma exceção, é o retrato do governo sob o comando do PT.
Incapacidade
de gestão e planejamento. Desvios e suspeições. Excesso de compromisso com os
companheiros, falta de compromisso com o país.
De
um lado, a gravidade das revelações objetivas que vêm à tona e fazem a
realidade superar as versões, que, antes sussurradas no meio político, já
pareciam inverossímeis.
De
outro, a vaidade e a onipotência daqueles que parecem acreditar que somos, os
brasileiros, um conjunto de tolos.
O
que se tornou conhecido por todos recentemente já era, há muito, de domínio do
governo. Por que, então, por exemplo, só agora o diretor que passou a ser o
bode expiatório do escândalo foi demitido?
Por
que personagens das páginas policiais estiveram, até ontem, protegidos em
posições de extrema confiança?
O
que mudou? O que transformou um bem feito num malfeito foi apenas a percepção
da sociedade? Que governo é este que só age ou ensaia providências quando é
confrontado pela opinião pública?
De
onde vem tanta arrogância, que faz com que os representantes do PT tripudiem
sobre a percepção dos brasileiros?
Primeiro,
inventaram os "recursos não contabilizados". Na semana passada, o
presidente do Banco Central chamou de mera "realocação contábil" a
iniciativa da Caixa de lançar os recursos confiscados dos correntistas como
lucro. Agora, na ausência de um mordomo, a culpa parece ser do
"relatório".
Os
brasileiros vêm sendo desrespeitados todos os dias por ações concretas, sempre
envoltas em coincidências demais e transparência de menos, mas também pela
forma com que o governo responde a elas.
Estamos
cansados de ver o interesse público e coletivo, razão de ser da própria
República e da democracia, confundido com os interesses privados e os projetos
individuais de poder de pessoas e de partidos.
Uma
coisa são os desafios da nação. Outra, são os problemas criados pelo governo.
O
governo que o eleitor escolheu para ser solução se transformou no principal
problema do país. A verdade é que o governo colocou o Brasil no caminho errado
--é simples assim. E o Brasil precisa voltar para o caminho certo.
Precisamos
de um governo que volte a ser solução.
Entre
a indignação, a revolta e o cansaço diante de repetidos absurdos, o sentimento
geral dos brasileiros é um só: já deu!
domingo, 23 de março de 2014
BOLA BRANCA: Briga no PT fortalece a derrota de Dilma e Tarso.
Eleições 2014
No berço político de Dilma, PT patina e complica palanque.
Pesquisas indicam que o governador Tarso Genro (PT) terá dificuldades para buscar a reeleição contra adversários ligados à base de Dilma no plano federal
Laryssa Borges, de Brasília
Dilma Rousseff e Tarso Genro (Tadeu Vilani/RBS/Folhapress)
A sete meses das eleições, a
presidente Dilma Rousseff decidiu se dedicar pessoalmente à montagem de
palanques regionais para sua candidatura à reeleição. A presença de Dilma à
mesa é parte da estratégia da direção do PT para tentar destravar conflitos entre
partidos que compõem sua base em Brasília, mas que poderão se enfrentar
nas disputas locais. Nas últimas semanas, ao analisar o xadrez eleitoral,
conselheiros da presidente chegaram a um diagnóstico nada favorável: Dilma
poderá enfrentar dificuldades em seu berço político, o Rio Grande do Sul.
Porém, ao contrário dos embates entre aliados pelo país, é o próprio PT quem
causará dor de cabeça para Dilma.
Isolado
na Assembleia Legislativa gaúcha, onde apenas PTB, PCdoB e o nanico PPL ainda
se mantêm fiéis à sua gestão, o governador Tarso Genro (PT) aparece em segundo
lugar em pesquisas encomendadas por partidos. Em ambas, é superado pela
senadora Ana Amélia Lemos (PP) – 41% a 27% em levantamento feito a pedido
do PSB, e 39% a 29% em sondagem realizada pelo PP.
Tarso
anda às turras com os professores da rede estadual, que não recebem o
piso nacional do magistério. Em Brasília, a situação tampouco é das mais confortáveis
desde que ele passou a liderar uma frente de governadores cobrando um novo
indexador para a dívida dos Estados com a União. Mais: é alvo frequente de fogo
amigo no PT, que ressalta as declarações de sua filha, a barulhenta ex-deputada
Luciana Genro (PSOL), contra o governo Dilma.
Ex-ministro
da Justiça e presidente do PT após o estouro do escândalo do mensalão, Tarso
não tem a simpatia da ala do PT ligada aos próceres petistas condenados no
julgamento feito pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – o que não chega a
ser um mérito. O governador gaúcho já defendeu publicamente a refundação
do partido depois do escândalo dos mensaleiros e, antes do veredicto do
STF, afirmou que altas autoridades da República deveriam ser levadas
para o banco dos réus. As declarações foram mal recebidas pela antiga
cúpula petista e até hoje causam retaliações internas de aliados do ex-ministro
da Casa Civil José Dirceu.
Paralelamente
ao enfraquecimento do governador, candidato à reeleição, PP e PMDB,
ambos aliados de Dilma na esfera federal, articulam candidaturas próprias, o
que deverá fazer do Estado um campo minado para a presidente na campanha. O PP
apresentou o nome da senadora Ana Amélia Lemos, enquanto o PMDB formalizou
a candidatura do ex-prefeito de Caxias do Sul José Ivo Sartori ao Palácio
Piratini. Sartori é ligado ao senador Pedro Simon (PMDB). Também são
candidatos ao governo gaúcho o deputado federal Vieira da Cunha (PDT), o
empresário José Paulo Dornelles Cairoli (PSD) e o professor Roberto Robaina
(PSOL).
Diante
do cenário embaraçoso para Dilma, os adversários na corrida pelo Palácio
do Planalto, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), já negociam o apoio de
Ana Amélia, cujo palanque poderá servir a ambos. O PSB de Campos
poderá estar representado em sua chapa, indicando o vice-governador. O
nome mais cotado é do deputado federal José Stédile (PSB), irmão
de João Pedro Stédile, dirigente do Movimento dos Sem Terra (MST). Como o
PP gaúcho é ligado a grandes produtores rurais, a aliança seria uma forma
de dobrar a resistência de pequenos agricultores. O PSDB também seria
contemplado: a eventual vitória de Ana Amélia abriria espaço para que o tucano
Alberto Wenzel, ex-prefeito de Santa Cruz do Sul, suplente dela,
herdasse uma cadeira no Senado Federal. "Na formação de alianças
políticas não pode haver radicalismo. Precisamos de uma ação mais criativa e
menos preconceituosa”, diz a senadora Ana Amélia.
“A
vitória do PP depende muito mais de nós não errarmos do que do risco de
concorrência de Tarso Genro”, afirma o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS). Por
enquanto, a frase deve ser vista tão somente como uma provocação. Mas, se
os rumos não se alterarem nos próximos meses, não é exagero afirmar que Dilma
terá de cabalar votos para Tarso.
Revista Veja.
sábado, 22 de março de 2014
BOLA PRETA: Para qualquer tipo de cota.
Fraudes na Uerj evidenciam falhas do sistema de cotas
Ministério Público do Rio investiga mais de 60 suspeitos de burlar mecanismo de seleção. Estudantes reclamam de falta de ação da Universidade
Pâmela Oliveira e Daniel Haidar
Vanessa Daudt foi aprovada como cotista após se declarar negra ou índia no vestibular de 2013 (Reprodução/MPRJ)
A foto de uma jovem em uma praia, publicada no Facebook, motivou o
comentário de uma amiga. “Ficou morena?”, perguntou. A menina da foto, para não
deixar dúvida sobre como se enxerga, respondeu com um palavrão irreproduzível:
“Sou loira, p...” Desde setembro, a jovem da foto, Vanessa Daudt, frequenta o
curso de enfermagem na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a Uerj. Para a
instituição, no entanto, ela apresentou uma ideia diferente sobre seu tom de
pele e sua descendência. Vanessa declarou ser negra ou índia e afirmou ter
baixa renda. Conseguiu, assim, ingressar na faculdade apesar de ter ocupado o
122º lugar na classificação geral, para um curso com 80 vagas.
Como cotista, Vanessa disputou 16 vagas com 34
candidatos – 2,19 interessados em cada cadeira. Na seleção normal, a corrida
seria bem mais apertada: teria que brigar com 515 vestibulandos por 44
matrículas. O caso de Vanessa é um dos mais de 60 sobre as mesas
dos promotores de Justiça do Ministério Público do Estado
do Rio. Desde 2007, denúncias anônimas e dos próprios estudantes avolumam-se em
um inquérito de mais de 3.000 páginas dedicado a descobrir se o sistema de
cotas na Uerj, que toma previamente 45% das vagas da instituição, é usado como
atalho ilegal para estudantes que se aproveitam das fragilidades da lei
estadual 5.346 – a que dispõe sobre o sistema de cotas nas universidades
estaduais do Rio. Como é sabido por todos os candidatos, basta declarar-se
negro ou índio e apresentar comprovantes de baixa renda para ser avaliado como
cotista, com absurdas vantagens sobre os demais concorrentes. Apesar da
abundância de denúncias e de a lei determinar que “cabe à universidade criar
mecanismos de combate à fraude”, a direção da Uerj não está preocupada com os
buracos em seu sistema.
O MP, diante do volume de denúncias, faz o que a instituição já deveria
ter feito: evitar a farra que subverteu não só os critérios de meritocracia
para ingresso na universidade, mas a própria lógica das cotas. Os “espertos”
conseguem, com notas bem mais baixas, passar na frente de gente que estudou e
recusou-se a recorrer ao caminho da fraude. O descaso da universidade consegue
algo inédito, que é unir gente a favor e contra as cotas. Afinal, um sistema de
cotas raciais que não barra os falsos cotistas prejudica a todos, e não somente
aos que, por lei – por pior que ela seja – teriam acesso legítimo ao benefício.
Revista Veja.
BOLA PRETA: Para a prática petista.
O PETISMO NA PRÁTICA
Percival Puggina
Durante muitos anos, de boas
lembranças para si, o PT dançou livre, leve e solto nas verdejantes planícies
da oposição. Tornou-se comum, nos debates de então, que seus representantes
emergissem sobranceiros de qualquer comparação porque o petismo era um ideal
não experimentado, enquanto seus adversários haviam ralado as unhas nas
escarpas e sujado os pés no exercício do poder. É sempre desigual o confronto
em que o ideal de um lado é apresentado em oposição à prática do outro lado.
Obviamente, o melhor discernimento é proporcionado quando se compara ideal com
ideal e prática com prática. Durante longos anos, no entanto, o PT era apenas
ideal em estado puro, com um apaixonado e combativo séquito de seguidores.
Foram estes seguidores que
festejaram a chegada do PT ao Planalto como definitiva Proclamação da
Moralidade na terra de Macunaíma. O país nunca mais seria o mesmo! Aquele ato
merecia um Pedro Américo para representá-lo sobre tela, dando forma e cor à emoção
popular, para admiração das gerações futuras. Dois anos mais tarde, o petismo
idealista fora para o saco e as comparações desabaram para o terreno da
prática. Era prática contra prática.
A partir daí acenderam-se
outras luzes e novas realidades no tabuleiro do xadrez político. As estrelas
que cobriam o território nacional com adesivos e bandeiras, sumiram
envergonhadas. Os petistas remanescentes já se contentavam com discutir quem
tinha o passado mais constrangedor. Como escrevi anteriormente, corruptos
existem em todos os partidos. No entanto, na prática, o PT se revelou como o
partido que defende incondicionalmente seus corruptos, sem o menor
constrangimento. E se isso lhe parece pouco significativo, leitor, pondere os
malefícios sobre o caráter nacional. É demolidor seu efeito quando se observa
que para dezenas de milhões de brasileiros a corrupção deixou de ter
importância. Convivemos com uma corrupção consentida por parcela imensa da
população, cujo incondicional apoio é comprado com a versão popular do
mensalão. Levado à prática, o petismo revelou-se um Midas bifronte, infame, que
corrompe tudo que toca.
Ouvi, recentemente, que o
Brasil não iria para os maus caminhos seguidos por outros queridos parceiros do
petismo no entorno sul-americano. Por quê? perguntei. "Porque o Brasil é
grande demais", respondeu meu interlocutor. Era um otimista. A essas
alturas asseguro-lhe, leitor: não há o que o PT não possa piorar e não possa
quebrar. Veja a Petrobras. O petismo na prática não apenas privatizou a empresa
em nome próprio como jogou seus papéis na sacola do lixo seletivo. E a
Petrobras era grande demais, era uma companhia gigantesca, respeitadíssima, que
agora vê seu nome nas manchetes e nas páginas policiais.
O petismo na prática passou
a apresentar todas essas denúncias que saltitam qual pipoca na panela como
coisa meritória. "Antes era muito pior, mas não se podia investigar",
dizem seus defensores, numa ligeira sugestão, impessoal e marota, sem endereço
nem remetente, que não tem testemunha ou evidência a apresentar. E o não dito
fica como se dito fosse. O que mais assusta é saber que já não podemos contar
com as instituições da República. Também elas estão contaminadas pelo Midas
bifronte que as colocou sob seu mando e manto.
_____________
*
Percival Puggina colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.
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