Dilma vaiada e Lula
escondido em casa. O povo entendeu quem são os responsáveis pela Copa do Mundo
fora do campo.
“A bola está na cancha brasileira”. Era quinta-feira, dia 28
de setembro de 2006, quando o então presidente Lula recebeu no Palácio do
Planalto um animado Joseph Blatter, presidente da Fifa. A regra de Blatter era
clara: o Brasil só não faria a Copa do Mundo de 2014 se não quisesse. Único
candidato a sediar o ainda distante Mundial, o Brasil de Lula - que seria
reeleito um mês depois, com 60,57% dos votos válidos, derrotando em segundo
turno o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin - era festejado no exterior, a
economia ia bem e o escândalo do mensalão passava longe do presidente.
Um ano depois, surfando na onda de otimismo, veio a
confirmação em Zurique, na Suíça: a Copa voltava a ser no Brasil, 64 anos
depois. No discurso de agradecimento, o presidente prometeu: "Vocês verão
a capacidade que teremos de construir bons estádios", "o Brasil
saberá fazer a sua lição de casa".
Passada a euforia, era hora de trabalhar. E os problemas
começaram a aparecer. Em 2010, com três anos de atraso, o governo lançou a Matriz
de Responsabilidade da Copa. No cardápio, 12 estádios e 81 obras de
infraestrutura e mobilidade urbana nas cidades-sede, que seriam o "grande
legado" para o povo brasileiro.
Mas as execuções passaram longe do gol. Do total previsto, 22
obras foram retiradas do planejamento nos anos seguintes. Mesmo com parte das
obras inacabada, o custo da Copa das Copas já é o maior da História dos
Mundiais: R$ 25,5 bilhões. Na construção dos estádios, foram contabilizadas
nove mortes de funcionários.
No rol das promessas não cumpridas, há ainda o trem-bala, que
ligará o Rio a São Paulo. A garantia de que ele estaria pronto foi dada pela
própria Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil de Lula. A obra não foi
sequer licitada, mas já custará pelo menos R$ 1 bilhão até o fim deste ano.
Houve atrasos também na entrega dos estádios - apenas a Arena
Castelão, em Fortaleza, e a Arena Pantanal, em Cuiabá, foram entregues no prazo
estipulado pela Fifa -, dos aeroportos e das obras de mobilidade. Em junho de
2013, o país foi surpreendido por uma onda de protestos que demonstrou um mau
humor generalizado - do qual o Mundial virou alvo, marcado pelo mote "Não
vai ter Copa".
Os dirigentes da Fifa, antes animados, começaram a criticar o
Brasil e a temer a violência das manifestações. A prévia veio com a vaia a
Dilma no Mané Garrincha, em Brasília, na abertura da Copa das Confederações. Às
vésperas da abertura do Mundial, Dilma foi à TV: “Estamos prontos”. Vai ter
Copa.
Acompanhe abaixo a sequência de promessas e balelas de Lula e
Dilma:
“Vocês verão no Brasil
a capacidade que teremos de construir bons estádios. Estejam certos de que o
Brasil saberá, orgulhosamente, fazer a sua lição de casa, realizar uma Copa
para argentino nenhum colocar defeito”. Lula, em 30 de outubro de 2007. Em
Zurique, diante de políticos, ex-jogadores e personalidades, no anúncio do
Brasil como sede da Copa. Em 2010, com os atrasos nos preparativos, o então
presidente ainda afirmou: “Se o Brasil não tiver condições, garanto que volto
da África a nado”.
“As coisas não estão funcionando. Muitas coisas estão
atrasadas. O Brasil merece um chute no traseiro”. Jérôme Valcke,
secretário-geral da Fifa, em março de 2012. A mais de dois anos da Copa, o
dirigente da Fifa perdeu a paciência depois de fazer muitas cobranças de maior
celeridade nas obras de construção dos estádios e não ser ouvido. O ministro do
Esporte, Aldo Rebelo, se queixou do tom da crítica, e Valcke acabou se
desculpando. Mas as obras se mantiveram no passo de tartaruga, e as críticas
continuaram.
“O Brasil acabou de se dar conta de que começou tarde demais.
É o país com mais atrasos desde que estou na Fifa, e foi o que teve mais tempo,
sete anos, para se preparar”. Joseph Blatter, presidente da Fifa, em janeiro
deste ano Blatter fez sua crítica mais incisiva aos atrasos do Brasil na
construção dos estádios e nas obras de mobilidade prometidas para a Copa do
Mundo. Um tom bem diferente da animação demonstrada pelo cartola em 2007,
quando afirmou: “O país que produziu os melhores jogadores do planeta, que tem
cinco títulos mundiais, terá o direito, mas também a responsabilidade, de
sediar a Copa em 2014”.
“Ora, eu cansei de ir estádio para ver o Corinthians jogar.
Nunca tivemos problemas em andar a pé. Anda a pé, vai descalço, vai de
bicicleta, de jumento, de qualquer coisa. A gente está preocupado (sic) em ter
metrô para ir até dentro do estádio? Mas que babaquice é essa?”. Lula, em maio
de 2014, reagindo, em seu estilo, às críticas gerais ao atraso nas obras
prometidas pelo governo para a Copa.
“As obras que não ficarem prontas para a Copa ficarão prontas
em agosto, setembro. E daí? Qual é o problema?”. Gilberto Carvalho,
secretário-geral da Presidência da República, em 3 de junho. Numa tentativa de
minimizar o fato de obras prometidas na Matriz de Responsabilidade da Copa não
terem sido concluídas para o Mundial.
“O Brasil venceu os principais obstáculos rumo à Copa. (...)
Os pessimistas diziam que não teríamos Copa porque não teríamos estádios. Os
estádios estão aí, prontos. Diziam que não teríamos Copa porque não teríamos
aeroportos. Praticamente, dobramos a capacidade dos nossos aeroportos”. Dilma
Rousseff, a dois dias da Copa, esquecendo que parte das obras está inacabada.
Ontem, Dilma recebeu cinco estrepitosos xingamentos no jogo
de abertura da Copa do Mundo. Lula ficou escondido em casa e nem foto liberou
para a Imprensa. Nenhuma declaração. Nenhuma piadinha. Parece que agora os dois
acordaram para uma dura realidade: o povo entendeu quem são os responsáveis
pelo fracasso da Copa fora do campo. (Síntese comentada de matéria de O Globo)
Fonte: Coturno noturno