A PRESIDENTE DESMENTIDA
EDITORIAL O ESTADÃO
O
ESTADO DE S. PAULO - 03/02
Seja lá o que resulte da
disputa entre a base aliada do governo e a oposição no Senado sobre a CPI que,
de uma forma ou de outra, terá como peça de resistência a cada vez mais
suspeita compra da Refinaria de Pasadena, pela qual a Petrobrás pagou uma fortuna
e mais alguma coisa, a abertura do inquérito parlamentar tornou-se ontem
definitivamente imperativa. O fato novo que nenhuma esperteza será capaz de
escamotear mediante as mesmas espertezas a que o PT e a ala leal do PMDB
recorreram nos últimos dias - com a aprovação da presidente Dilma Rousseff e a
cumplicidade do titular do Senado Renan Calheiros - foi a incandescente
revelação do advogado Edson Ribeiro.
Patrono do ex-diretor da
área internacional da petroleira, Nestor Cerveró - demitido há 13 dias do cargo
de diretor financeiro da BR Distribuidora, que passou a ocupar seis anos depois
do escândalo de Pasadena -, Ribeiro mergulhou a presidente no que é sem dúvida
a sua pior enrascada desde que ascendeu ao Planalto.
Na semana atrasada, como se
recorda, informada de que o Estado tinha apurado que a compra de metade da
refinaria a preço extravagante havia sido autorizada em fevereiro de 2006 por
decisão unânime do Conselho de Administração da Petrobrás, que ela chefiava na
condição de ministra da Casa Civil no governo Lula, Dilma se saiu com uma
explicação literalmente extraordinária que a deixou em confronto com a atual
dirigente da empresa, sua até então amiga Graça Foster, e o antecessor José
Sérgio Gabrielli.
Separadamente eles foram se
explicar ao Congresso no ano passado e imaginavam ter administrado as reações
ao malfadado negócio, trazido a público em 2012 pelo Broadcast, o serviço em
tempo real da Agência Estado. Ainda assim, o caso entrou na mira do Tribunal de
Contas da União (TCU) e do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro, por
suspeita de superfaturamento e evasão de divisas. Em 17 de março, numa nota de
próprio punho ao Estado, a presidente declarou que o seu voto favorável à época
se baseou em um mero resumo executivo, "técnica e juridicamente
falho", dos termos da transação por se consumar. O texto de um par de
páginas omitiu duas cláusulas descaradamente favoráveis à empresa belga Astra
Oil, em vias de se tomar parceira da Petrobrás. Se as conhecesse, alegou Dilma,
"seguramente" teria se oposto à assinatura do respectivo contrato.
O texto cujas lacunas foram
usadas para preencher a autodefesa da presidente foi preparado por Cerveró,
como lhe competia como responsável pelas atividades da estatal no exterior. Ele
teve a ajuda, como se viria a saber, do colega que então dirigia o setor de
Refino e Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa. Dias depois da
estarrecedora confissão da presidente, Costa foi preso pela Polícia Federal sob
a acusação de ter ligações com o conhecido operador do mercado clandestino de
câmbio Alberto Yousseff, chefe de uma extensa rede de lavagem de dinheiro.
Costa, que saiu da Petrobrás depois que Graça o tirou do cargo, continuou
buscando grandes negócios amparado pelas amizades e interesses que manteve na
petroleira.
Enquanto novos aspectos da
história de Pasadena continuavam a alimentar o noticiário, já agora dominado
pelas artimanhas do governo para impedir ou desfigurar a instalação da CPI
pedida pela oposição, o advogado de Cerveró tratou de fazer jus aos seus
honorários. Na terça-feira, Ribeiro circulou pelas duas Casas do Congresso, o
TCU e a Polícia Federal - que também apura a esbómia da refinaria -,
distribuindo cartas em que seu cliente se diz pronto a prestar os
esclarecimentos que lhe venham a ser cobrados. No dia seguinte, com
profissional senso de oportunidade, lançou a sua bomba. Desmentindo a
presidente, afirmou que ela e os demais conselheiros da Petrobrás à época
receberam a íntegra da proposta do contrato com a Astra Oil 15 dias antes da
fatídica reunião em que foi aprovada.
"Os conselheiros
tiveram tempo hábil para examinar o contrato. Se não o fizeram, foram no mínimo
levianos ou praticaram gestão temerária", disse Ribeiro à Folha de S.Paulo.
Resta saber, se o desmentido ficar comprovado, como Dilma se sairá dessa. Se é
que conseguirá sair.
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