Grilo falante
EDITORIAL FOLHA DE SP - 10/04
Diante da rápida queda de popularidade do governo Dilma Rousseff, Lula decide cobrar ações para melhorar
a economia brasileira
Já não constituíam novidade
a deterioração das expectativas econômicas e o desconforto de empresários e
investidores com relação a um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff (PT).
A velocidade com que tem caído a aprovação do governo, entretanto, parece ter
sido a senha para o ex-presidente Lula voltar à ribalta.
Foi numa entrevista
concedida a nove blogueiros na sede do Instituto Lula, em São Paulo. Com sua
verborragia característica, o petista asseverou que o país poderia estar melhor
e cobrou de sua afilhada política manifestações mais claras a respeito do que
fará para reanimar a economia brasileira.
Não há como imaginar que
Dilma tenha se sentido confortável com tais declarações. Primeiro, porque Lula,
a despeito das negativas explícitas, mantém implícita e muito viva a
possibilidade de ele se candidatar, caso isso seja necessário para os planos do
PT.
Além disso, o conselho de
Lula não é daqueles que podem ser postos em prática sem mais considerações.
Afinal, será difícil para Dilma explicar -se o fizer sinceramente- como
pretende arrumar a casa sem com isso deixar claro que muitos dos problemas
presentes foram causados por erros dos próprios governos petistas.
Vale lembrar, a propósito,
que a guinada desenvolvimentista que está na raiz das dificuldades atuais teve
início na administração de Lula. Foi a reação à crise financeira de 2008 que
desencadeou a receita de aumento dos gastos do governo, uso dos bancos públicos
para estimular a economia e crescimento do intervencionismo setorial.
Pode-se identificar,
ademais, alguma leniência com a inflação já em 2010, quando o Banco Central
evitou corrigir os juros com o vigor necessário. E assim continuou. A escalada
dos preços é hoje uma das grandes preocupações da população, sentimento
generalizado em todos os segmentos sociais.
À luz das pressões nas mais
variadas frentes -alimentos, serviços, itens importados-, não surpreenderá se o
teto da meta de inflação, de 6,5%, for rompido justamente no período eleitoral.
O PIB, por sua vez, patina.
O FMI, por exemplo, pela terceira vez rebaixou a previsão de crescimento da
economia neste ano, para 1,8%. O Brasil destoa dos emergentes, que crescem
mais.
Pressionado pela eleição, o
Planalto conta agora com pouca margem de manobra para fazer os ajustes de que o
país precisa. Ao adiar decisões difíceis, porém, o governo pinta um 2015
preocupante, com tintas recessivas mais fortes do que o necessário caso tivesse
começado a misturar as cores mais cedo.
Em outros carnavais, Dilma
Rousseff seria exibida na campanha como a gestora ideal para lidar com o
cenário conturbado. Esse tempo passou, e Lula parece saber disso melhor do que
ninguém.
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