Eles nunca sabem de nada
Editorial GAZETA DO POVO - PR - 04/04
André Vargas, ao dizer que
não sabia o que fazia o doleiro Alberto Youssef, só repete seus mestres Lula e
Dilma ao entoar o grande mantra do petismo.
Impressionante a
desinformação demonstrada por algumas pessoas que, por dever de ofício,
deveriam ser mais informadas do que quaisquer outras. O último a revelar que
nada sabia foi o deputado do PT paranaense André Vargas, vice-presidente da
Câmara Federal, que, após ter viajado em férias com a família a bordo de um
jatinho do doleiro Alberto Youssef, em janeiro, disse desconhecer as cabulosas
relações de seu benfeitor com o mundo do crime organizado.
Difícil de acreditar:
Youssef foi preso há dias pela Operação Lava-Jato, desencadeada pela Polícia
Federal, para investigar atividades de uma quadrilha especializada em operações
de lavagem de dinheiro, da qual faria parte também um diretor da Petrobras
suspeito de participar da compra superfaturada da refinaria de Pasadena. O
Brasil inteiro soube dos casos e se familiarizou com os nomes – menos o
deputado Vargas, aparentemente. E, pelo jeito, o parlamentar também não se
interessou pelos aflitos momentos pelos quais passa o amigo que diz conhecer há
20 anos e que é generoso o suficiente para proporcionar-lhe o conforto de um
voo particular de quase 4 mil quilômetros, entre o Paraná e a Paraíba. A prisão
de Youssef, é verdade, ocorreu meses depois da viagem de Vargas; mas a (má)
fama do doleiro já vem desde os anos 90, como mostrou na quarta-feira a Gazeta
do Povo, e inclui escândalos de corrupção no Paraná.
O parlamentar paranaense,
porém, não se utilizou de um recurso original. O já clássico “eu não sabia” é
uma prática comum nas mais altas esferas do PT, inaugurada com pompa e
circunstância pelo ex-presidente Lula, que dizia nada saber do que se passava
sob suas barbas quando posto diante do escândalo do mensalão. Envolvidos no
esquema estavam os homens mais próximos do presidente, como o chefe da Casa
Civil, José Dirceu; o então presidente do partido, José Genoino; e tantas
outras figuras que o rodeavam com a desenvoltura que a intimidade permite.
Lula também não sabia das
proezas de sua secretária particular, Rosemary Noronha, que se valia do cargo
de chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo para traficar
favores. Poderosa, era parte integrante das comitivas do ex-presidente em
viagens internacionais, dividindo os mesmos hotéis. Quando em vilegiaturas
privadas, ocupava dependências oficiais luxuosas da embaixada em Roma. Todos
sabiam; Lula não.
Da mesma estratégia de fuga
da realidade se utilizou também a presidente Dilma Rousseff, ao confessar, dias
atrás, saber quase nada do negócio em que a Petrobras acabou pagando US$ 1,2
bilhão por uma refinaria avaliada em US$ 45 milhões. Na ocasião, ela presidia o
Conselho de Administração da estatal – mas bastou-lhe um relatório de três
folhas, “técnica e juridicamente falho”, para dar voto favorável à estranha
compra.
Inúmeros outros exemplos de
“eu não sabia” poderiam ser enfileirados para contar a história do petismo.
Repetida e entoada qual um cansativo mantra, a expressão é mais reveladora do
que se pensa. Talvez não revele que seus autores tenham tido, de fato,
participação mais ativa nos vergonhosos acontecimentos, mas sem dúvida é
sintomática de um alheamento que beira a irresponsabilidade e, por isso,
incompatível com as funções públicas que seus autores exercem.
É evidente ser impossível,
impraticável mesmo, que os ocupantes das mais altas instâncias consigam tomar
conhecimento de tudo o que ocorre à sua volta, nem são dotados dos aparatos de
cognição do “Big Brother” de que nos fala George Orwell a ponto de passar seu
tempo fiscalizando o que fazem seus delegados. Entretanto, duas atitudes indelegáveis
se espera deles: uma, que não tolerem os desvios de comportamento dos
subordinados e lhes apliquem os corretivos devidos; outra, que assumam as
responsabilidades que a representação popular lhes impõe.
Tudo, menos o “eu não
sabia”, principalmente sobre fatos que todos sabem.
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