O doleiro e o deputado nas asas da corrupção
ROBERTO FREIRE
BRASIL ECONÔMICO - 11/04
A sociedade brasileira mal
consegue se atualizar diante da avalanche de denúncias envolvendo a Petrobras,
com novidades estarrecedoras dia após dia, e o PT já protagoniza mais um
escândalo que atinge o centro do poder. O personagem da vez é o deputado André
Vargas, vice-presidente do Congresso e integrante da ala mais ligada a Lula. As
conexões criminosas do parlamentar com o doleiro Alberto Youssef, preso pela
Polícia Federal na Operação Lava-Jato, tinham como objetivo assegurar a
"independência financeira" da dupla às custas dos cofres públicos.
Foi o que revelaram
interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. As relações promíscuas
entre Vargas e seu comparsa, detido por participar de um esquema de lavagem de
dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões em operações suspeitas, foram
desvendadas a partir da revelação de que o deputado viajou com familiares em um
avião particular fretado por Youssef ao custo de R$ 100 mil.
A troca de favores chegaria
ao Ministério da Saúde, onde o congressista atuou a serviço do doleiro. Dono de
uma empresa de fachada denominada Labogen Química Fina e Biotecnologia e
registrada no nome de um "laranja", Youssef se aproveitou do
prestígio do amigo no PT e obteve um contrato milionário para o fornecimento de
um remédio. Com capital social de R$ 28 mil e folha de pagamentos de R$ 30mil,
a Labogen fechou um acordo que poderia chegar a R$150 milhões, dos quais R$ 31
milhões já haviam sido firmados por meio de um vínculo assinado pelo então
ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O que chama a atenção é o
fato de o ministério ter feito a negociação com um mero intermediário, e não
diretamente com o produtor, abrindo brechas para a falcatrua e o ilícito.
Trata-se do mesmo Padilha que, em vídeo que circula pela internet, pediu votos
a Vargas quando o deputado se candidatou à reeleição para a Câmara Federal.
Apoiado por Lula e Dilma, que fincaram na Prefeitura de São Paulo o
"poste" Fernando Haddad, o ex-ministro que assinou o contrato sem
sequer consultar a ficha cadastral da Labogen será o candidato do PT ao governo
paulista. Ao contrário do que os petistas querem fazer crer, Vargas não era um
militante qualquer no partido.
Ex-secretário nacional de
Comunicação da legenda e entusiasta declarado do famigerado "controle
social da mídia", o vice-presidente da Câmara se notabilizou pelo apoio
aos mensaleiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em fevereiro,
durante a sessão de abertura do ano legislativo, o petista provocou o
presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, ao erguer os braços, de punhos
cerrados, como fizeram seus correligionários no momento em que foram presos. O
gesto foi historicamente utilizado como símbolo de resistência política das
esquerdas durante todo o século XX, mas acabou enxovalhado pelo PT.
Baseadas no Regimento
Interno da Câmara, as oposições apresentaram um requerimento ao Conselho de
Ética alegando quebra do decoro parlamentar e pedindo punição a André Vargas. A
relação indecorosa entre o deputado petista e o doleiro, com a chancela do Ministério
da Saúde, é apenas mais um caso de corrupção que se soma ao extenso rol de
ilegalidades cometidas nos tempos de Lula e Dilma. Os 12 anos de governo
mostraram ao país que o PT não respeita as instituições republicanas e prioriza
seus negócios escusos em detrimento dos reais interesses do Estado.
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