O PT COMEÇOU A MORRER
Reinaldo
Azevedo
FOLHA
DE SP - 25/04
Que bom! Há nas ruas e nas redes sociais
sinais claros de enfraquecimento da metafísica petista
O PT ensaiou uma reação
quando veio a público a avalanche de malfeitorias óbvias na Petrobras: convocou
o coração verde-amarelo da nação. Tudo não passaria de uma conspiração dos
defensores da "privataria", interessados em doar mais essa riqueza
nacional ao "sagaz brichote", para lembrar o poeta baiano Gregório de
Matos, no século 17, referindo-se, em tom de censura, aos ingleses e a seu espírito
mercantil. Não colou! A campanha não pegou. A acusação soou velha, do tempo em
que a ignorância ainda confundia capitalismo com maldade.
Desta vez, parece, os
larápios não vão usar o relincho ideológico como biombo. Até porque, e todo
mundo sabe disto, ninguém quer nem vai vender a Petrobras. Infelizmente, ela
continuará a ser nossa, como a pororoca, o amarelão e o hábito de prosear de
cócoras e ver o tempo passar --para lembrar o grande Monteiro Lobato, o pai da
campanha "O petróleo é nosso". A intenção era certamente boa. Ele não
tinha como imaginar o tamanho do monstro que nasceria em Botocúndia..
Há nas ruas, nas redes
sociais, em todo canto, sinais claros de enfraquecimento da metafísica petista.
Percebe-se certo cansaço dessa estridência permanente contra os adversários,
tratados como inimigos a serem eliminados. Se, em algum momento, setores da
sociedade alheios à militância política profissional chegaram a confundir esse
espírito guerreiro com retidão, vai-se percebendo, de maneira inequívoca, que
aquilo que se apresentava como uma ética superior era e é apenas uma ferramenta
para chegar ao poder e nele se manter.
A arte de demonizar o outro,
de tentar silenciá-lo, de submetê-lo a um paredão moral seduz cada vez menos
gente. Ao contrário: há uma crescente irritação com os estafetas dedicados a
tal tarefa. Se, antes, nas redes sociais, as críticas ao petismo eram tímidas,
porque se temia a polícia do pensamento, hoje, elas já são desassombradas. E se
multiplicam. Os blogs sujos viraram caricatura. A cultura antipetista está em
expansão. E isso, obviamente, é bom.
Notem: não estou a fazer
previsões eleitorais. Não sei se Dilma será ou não reeleita; não me importa se
o PT fará mais parlamentares ou menos; mais governos de Estado ou menos. Quem
me lê deve supor o meu gosto para cada uma dessas possibilidades. Ainda que o
partido venha a ter o melhor desempenho de sua história, terá começado a morrer
mesmo assim. Refiro-me, à falta de expressão mais precisa, a uma "agitação
das mentalidades" que costuma anunciar as mudanças realmente relevantes.
Pegue-se o caso do PT: não
nasceu em 1980. Surgiu alguns anos antes, de demandas geradas por valores a que
a política institucional, as esquerdas tradicionais e o nacionalismo pré-64,
que remanescia, já não conseguiam responder. À diferença do que ele próprio
deve pensar, Lula não inventou o PT. O espírito do tempo é que inventou Lula.
"Ah, mas a oposição não
tem projeto!" A cada dia, fica mais evidente que essa história de
"projeto" é conversa para embalar idiotas. Não é preciso parir a
novidade a cada eleição. Ao contrário: o espírito novidadeiro costuma traduzir um
vazio de ideias. Estancar a ladroagem nas estatais é uma boa proposta. Parar de
flertar com a inflação é uma boa proposta. Desmontar o aparelhamento do estado
é uma boa proposta. Estabelecer parcerias com o setor privado, em vez de
comprar a sua adesão com subsídios e renúncia fiscal, é uma boa proposta. E
nada disso compõe, exatamente, um "projeto". A propósito: qual é o do
PT?
Se querem, para o bem do
país, tirar Dilma do trono, seus adversários devem se ocupar menos de encontrar
a "pedra filosofal da oposição" do que de lembrar que estão a falar
com um povo, na média, decente, a cada dia menos tolerante com bandidos que
prometem a nossa salvação. Espero que Aécio Neves e Eduardo Campos descubram,
finalmente, a força dos indivíduos e de seu senso de moralidade. São eles que
criam o espírito do tempo. E que formam o povo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário