A pílula dourada de Lula
CLÁUDIO
SLAVIERO
GAZETA
DO POVO - PR - 06/04
Recentemente, o
ex-presidente Lula afirmou em um artigo que o Brasil é o país das oportunidades
e que isso incomoda e contraria interesses. É inegável que Lula tem o dom da
palavra. É incontestável sua eloquência, sua desenvoltura ao falar e a
propriedade que tem de convencer. Lula tem o dom de dourar a pílula para vender
seu peixe e usa de artimanhas demagógicas e falaciosas para mostrar um Brasil
que não corresponde exatamente à realidade.
Lula afirma que as atenções
estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Lamentavelmente o Brasil
não é mais o queridinho das reuniões multilaterais. Hoje, a política econômica
brasileira é desastrosa e a externa, errática. Deixamos de ser considerados um
país de bom investimento e estamos entre os mais vulneráveis, junto com Índia,
Turquia, Indonésia e África do Sul. Encerrou-se um ciclo e hoje só se fala nos
Estados Unidos e na Ásia. As agências de classificação rebaixam o Brasil, em
função da combinação da deterioração das contas públicas, perspectiva de crescimento
mínimo e piora nas contas externas.
Diz que o PIB cresceu 4,4
vezes, supera US$ 2,2 trilhões e que o comércio externo passou de US$ 108
bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. É verdade, mas nem tudo é obra dos dois
últimos governos ou do PT. A economia vinha sendo fortalecida desde os governos
de Itamar Franco e Fernando Henrique, com a adoção do Plano Real: moeda forte e
inflação controlada. Vamos deixar bem claro que, apesar do mérito dos governos
que os antecederam, os governos petistas não consolidaram os fundamentos
econômicos do real.
Em 2002, a inflação estava
em processo de declínio, caindo de 12,5% para os atuais 5,9%. O problema é que
agora, com uma política econômica desastrosa, estamos entre os
"frágeis", países onde a inflação é considerada alta, o crescimento
econômico é modesto e os desequilíbrios fiscal e externo são acentuados. A taxa
de poupança em 2013 foi de míseros 13,9% do PIB. Nesse nível, é impossível
pensar em grandes projetos de investimento do país sem contar com recursos externos.
Em 2002, o total da dívida
brasileira (interna/externa) era de R$ 851 bilhões. Em 2007, Lula disse uma
verdade quando afirmou que pagou a dívida externa. Só que não disse que, para
isso, aumentou a dívida interna e o total passou para R$ 1,4 trilhão (em cinco
anos a dívida quase dobrou). Em 2010, voltamos a dever externamente R$ 240
bilhões, com a dívida total de R$ 1,9 trilhão. A dívida pública brasileira
fechou 2013 em R$ 2,1 trilhões, um recorde, a segunda maior dívida entre os
países subdesenvolvidos. É daí que vem o dinheiro que Lula e Dilma gastam no
PAC e nas bolsas (família, educação, cultura, para presos, prostitutas etc.) e
de onde dizem ter tirado 36 milhões de brasileiros da pobreza. Não é com
dinheiro do crescimento, mas com dinheiro de endividamento. A dívida pública já
é do tamanho daquilo que o país ganha todos os anos e cresce 2,5 vezes mais
rápido que o PIB. Quem vai pagar essa conta?
Lula diz que 42 milhões de
brasileiros alcançaram a classe média. Dizer que quem recebe salário a partir
de R$ 320 por mês ou renda familiar de R$ 1.540 é considerado de classe média
só pode ser deboche. Quanto, então, ganha quem pertence à classe baixa? Como
viver, alimentar-se, estudar ou ir ao médico com um salário desses? É um
embuste! Serve apenas para dourar índices e dizer que houve melhora no nível de
vida das pessoas, que a miséria foi erradicada e que vivemos contentes em nossa
pobreza.
É verdade dizer que o país
duplicou a safra em 2013, batendo recorde de 189 milhões de toneladas. Só que ele
não diz que, na hora de vender essa riqueza, o Brasil fracassa. Sem
infraestrutura adequada de portos, estradas, ferrovias e silos para
armazenamento, a exportação de um contêiner demora 13 dias e custa US$ 2,2 mil,
enquanto em Cingapura leva metade do tempo, por um quarto do valor.
Lula diz que triplicou o
orçamento federal para a educação. É de se perguntar: por que, então, a
qualidade do ensino continua ruim? A média do Pisa (prova que avalia os
estudantes) subiu apenas 9,2% entre 2000 e 2012, e o país ocupa a 57.ª posição
entre 65 nações. Ainda é de se perguntar: há um projeto de desenvolvimento
científico e tecnológico para o país? Qual é nossa política industrial? Qual é
o projeto de futuro?
Ao dizer que o governo
ampliou a capacidade de energia elétrica, esquece que a geração não acompanhou
o consumo e o sistema elétrico opera no limite. Nos últimos três anos, houve
uma média de cinco apagões por mês (o último, em fevereiro deste ano). E os
custos gerados pelo uso das termelétricas ultrapassaram R$ 12 bilhões, em conta
que os consumidores serão obrigados a pagar a partir de 2015. Aliás, desde 2012
o governo e a Aneel drenaram R$ 32 bilhões para as termelétricas de grupos
ligados à família Sarney e a Eike Batista. Deve ser por isso que há oito anos a
Aneel retém nas gavetas 640 projetos de novas Pequenas Centrais Hidrelétricas.
Lula anunciou em 2006 a
autossuficiência em petróleo. Desde então, a produção caiu 17%. Em 2013, a
Petrobras gastou R$ 16,5 bilhões para importar combustíveis e vem amargando
prejuízos para si e para seus investidores. Nos últimos três anos, perdeu 51%
de seu valor de mercado e está envolta em denúncias de corrupção. Sem contar
com o rombo de quase US$ 1,2 bilhão aos seus cofres na aquisição inexplicável
de uma refinaria de petróleo em Pasadena, nos EUA.
Lula diz que vivemos sob uma
democracia plena. É de se perguntar: que tipo de democracia? Aquela dos países
como Inglaterra, EUA e Alemanha, onde as instituições são respeitadas? Ou
aquela bolivariana seguida por Bolívia, Cuba, Argentina e Venezuela, que cala a
imprensa, onde o Congresso é uma extensão do Executivo e o Judiciário vive sob
ataque e controle?
O Brasil de verdade está
muito longe do apregoado por Lula, Dilma e seus fiéis seguidores.
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